Notícias do passado: a mulher-homem
Em Março de 1879, os jornais portuenses noticiaram que, na Rua do Bonjardim, no Porto, num armazém de vinhos, estava empregado como caixeiro um rapaz de 20 anos de idade, que trocara os trajes femininos pelos do sexo feio.
A notícia começava com o relato da prisão ocorrida no dia anterior. Havia cerca de um mês que o chefe da esquadra policial desconfiou de António Custódio das Neves a trabalhar no armazém do senhor Joaquim Silva.
A pretexto de lhe perguntar se estava livre do recrutamento, o chefe da polícia conseguiu que a mulher-homem fosse à esquadra, interrogando-o. Face às perguntas embaraçou-se, calando-se. O polícia declarou-lhe as suspeitas. Decorridos momentos, a mesma confirmou chamar-se Antónia Custódia das Neves, ter 20 anos, ser solteira, afirmando ter adoptado o traje masculino, não por ter cometido qualquer crime, mas porque assim trajara desde muito criança.A rapariga foi mandada para o Aljube para ser apresentada no dia seguinte ao tribunal, onde lhe foi feito o exame médico a confirmar. Pouco depois, foi posta em liberdade. Grande número de pessoas foi à porta do tribunal para a apupar. O comissário geral da polícia mandou-a retratar à Fotografia União.
Que motivos a teriam levado a tomar esta atitude? A ambição de ganhar melhor a vida? Já agora, o jornal ainda referia que, como homem, galanteava outra rapariga a quem prometera casamento e, algum tempo depois, descobriu-se uma outra irmã de Antónia, também vestida de homem, que exercia a profissão de moleiro no Douro. E esta, heim?